Se alguém tiver curiosidade, aqui fica na integra e o link no fim para verem a edição completa:
Tenho que começar
por vos contar um segredo: Nunca escrevi a minha reflexão do 3º período
no 12º ano e sempre soube que um dia a reflexão me viria bater à porta e
dizer "é hoje!". Pensei em escrevê-la quando acabei o meu primeiro ano
de universidade em Inglaterra, quando acabei o curso, quando estava
naquela fase estranha em que tenho uma licenciatura e não sei o que
fazer com ela, quando cheguei à Nova Zelândia... e nunca aconteceu.
Talvez mais interessante do que não a ter escrito é o facto de sentir, sempre num desses momentos decisivos, que é hora de o fazer. Pergunto-me se os meu professores imaginam que isto é um assunto que me "atormenta" desde esse fatídico ultimo dia de aulas do 12º ano. A Soares dos Reis teve tal influencia em mim que o simples facto de não ter parado para tratar de escrever os pontos finais (ou ponto e vírgula) no assunto, me deixou com um sentido de “inacabadez” desmesurável.
Talvez seja pelo melhor. Levo comigo um pouco da Soares para todo o lado. Sempre a pensar em como escrever esse capítulo.
Como é que eu acabei na Nova Zelândia, a trabalhar num estúdio como Designer de Produto? Não sei bem. Não sei como começou, mas sei que a história passa pela Soares dos Reis e que ainda não acabou. O melhor está por vir.
Estava eu no 9º ano quando uma pessoa que me conhecia bem me falou da Soares dos Reis. Era uma ex-aluna e disse-me “acho que é uma escola que te encaixava bem”. Eu, que vivia na conchichina (aka Ovar) achei a ideia espetacular. Como quem quando lhe dizem “Queres ir à Lua?” e começa logo a imaginar-se dentro da nave com o capacete e a descolar ainda sem saber os contornos da aventura. Nessa noite pesquisei tudo o que consegui sobre esta escola e absorvi tanta informação quanto possível. Ao final do dia estava a rebentar. Notas de entrada? Listas? Anos comuns? Escolhas??? AJUDA! Escrevi o email mais aterrorizado de sempre (mas sempre com cuidado, porque não sabia se ia ser tido em conta na minha candidatura) e enviei para o conselho executivo. Quando acordei tinha uma resposta. Não uma resposta qualquer, mas a resposta que precisava.
“Ovar não é propriamente na China! Tenha calma.” Lembro-me de respirar fundo e ler por entre as linhas desta mensagem "não há nada que não consigas fazer!" Acho mesmo que foi o início das aventuras da Sara Almeida (mal sabia eu que o “Alberto” que me respondeu, era O Professor Alberto).
Muitos dos ensinamentos que trago desta escola só foram completamente absorvidos por mim já depois de a deixar.
Depois do 12º ano, ingressei no curso de Design de Produto numa Universidade na parte rural de Inglaterra. Como é que lá fui parar? Algures no 11º ano falei do assunto com uma amiga. Decidimos que nos íamos candidatar juntas. Esperei por ela meses e meses a fio. Quando percebi que ela afinal gostava muito da ideia, mas que nunca iria pôr mãos à obra, decidi candidatar-me sozinha. O único problema foi que as candidaturas para o ano lectivo seguinte tinham acabado... nesse dia. Eis que quando, recebo um email a informar-me que o prazo tinha sido prolongado porque estava a nevar em Inglaterra. Numa semana tratei de tudo. 8 meses depois, estava a aterrar numa nova aventura.
Logo no meu primeiro ano percebi as diferenças entre mim e os meus colegas. Eles pesquisavam na Internet. Eu pesquisava na rua, a falar com pessoas. Eles desenhavam cadeiras e mesas. Eu sonhava com espaços onde tudo coexistia com as emoções e sensações dos utilizadores. Eles criavam candeeiros, eu pensava em como resolver a guerra no Sudão através do design.
Esta maneira de encarar o design foi-me passada na Soares dos Reis.
No segundo ano do curso fiz um estágio de três meses numa empresa de iluminação chamada iGuzzini. Trabalhava no departamento de design, pedidos especiais: quando alguém nos contratava para fazer o projecto de iluminação para um projecto e queria uma alteração do produto do nosso catálogo, o departamento onde eu estava entrava em acção. Estive envolvida nos projectos para o aeroporto de Gatwick, as lojas da Primark e algumas habitações privadas. Pela primeira vez tive experiência em produzir algo de acordo com o pedido de um cliente, criar o produto, enviar para produção , recebê-lo e admira-lo. Adorei a sensação! No final do estágio o director do departamento de design, Rory Marples, disse-me para o contactar quando acabasse o curso, se quisesse trabalhar lá. Disse que me escrevia uma carta de recomendação se eu precisasse. Mas não foi o suficiente: Não me pagavam nem transporte nem subsídio de alimentação. Não gostei de trabalhar unicamente em produtos de iluminação e não gostei do ambiente de trabalho. Todos os dias os designers trabalhavam no mínimo 2 horas extra. Em alguns dias até á meia noite. Se alguém saia á hora normal, havia sempre conversa sobre o assunto "acreditas que ele foi mesmo embora ás 5:30??". Ao fim de três meses decidi vir embora. Na altura agradeci a oferta do Rory mas sabia que não fazia nenhuma intenção de a aceitar. Não era o sítio ideal para mim.
Dois anos mais tarde , finalmente liguei-lhe para pedir a minha carta de recomendação. Ia viajar para a Nova Zelândia e tinha lido que estavam a precisar de designers de produto. A meio da conversa perguntei lhe se conhecia alguém pelo país. Disse logo que sim e deu-me o número de um designer Kiwi (pessoa de origem neozelandesa). Toda despachada, liguei lhe logo e expliquei a história. Ele pareceu apreensivo mas ao fim de 5 minutos de conversa disse "envia-me o teu portfólio".
Um dia antes de embarcar no voo, recebo um email de um estúdio a perguntar se podíamos marcar uma entrevista pelo skype porque alguém lhes tinha enviado o meu portfólio. Liguei lhes logo e disse : em 48h posso aparecer no estúdio. E assim foi. Na entrevista fizeram me vários testes e exercícios de design. Muitos deles parecidos com os que fiz na Soares dos Reis no início do ano lectivo nas aulas de projecto. Repensar um objecto. Melhorá-lo. Reinventá-lo. No final, perguntaram me num tom que nunca tinha encontrado "gostaríamos muito que te juntasses á equipa. Achas que estas interessada?" Percebi depois que o tom foi o mesmo que usamos quando pedimos aos nossos pais para nos emprestarem o carro para ir sair à noite. Dizemos muitas vezes "diz que sim, diz que sim" na nossa cabeça , á espera que seja essa a resposta que lhes sai da boca. Eles estavam interessados em mim. Não era eu a implorar por um emprego. Eram eles a dizer: queremos te a ti. Um salário em condições. Férias pagas. Horas normais. Essas coisas todas que ensinaram á minha geração que só acontece em sonhos. E eu disse que sim, qual casal a aceitar ser feliz para sempre.
Deixem-me contar-vos como funciona o estúdio MW Design: somos 2 designers de produto e dois engenheiros designers. Trabalhamos das 9 às 5:30. A essa hora, o patrão activa o alarme e temos que correr dali para fora. Ninguém trabalha depois da hora. A não ser quando sabemos que é preciso cumprir um prazo e todos trabalhamos sem nos queixarmos , de boa vontade. As secretárias estão organizadas numa circunferencia pelo estúdio. Todos vemos o que os outros estão a fazer e todos contribuímos. Várias vezes ao dia é esperado que nos levantemos e exponhamos o trabalho que estamos a desenvolver na parede e que o expliquemos em voz alta. Com este processo detectamos erros muito mais rápido , recebemos críticas construtivas e dessa forma o design é muito melhor do que se fosse pensado por uma só pessoa. Somos incentivados a falar de coisas que nos interessam para que o patrão encontre clientes e projectos que vão de encontro ao que gostamos. Trabalho ao mesmo tempo em mais ou menos 5 projectos que vão de coisas altamente tecnológicas como máquinas de diagnóstico de problemas em tubos de extracção de gás a objectos de aplicação de dispositivos intra uterino em vacas. Passando por mesas de bilhar, armadilhas para ratazanas e embalagens para leite de bebé. Nunca há um momento aborrecido nem a sensação que todos os dias são a mesma coisa. Tenho dois patrões que todos os dias me perguntam no que me podem ajudar. E sei que estão a falar tanto na parte profissional como pessoal. Nas primeiras semanas entrei em parafuso quando me pediam para fazer coisas que nunca tinha feito. Fui aprendendo à medida que era preciso. Percebi depois, que até os designers seniores faziam o mesmo. Não era só eu que passava a vida a ver vídeos no YouTube com tutoriais do SolidWorks ou que ia á biblioteca aprender sobre técnicas de fabrico. Estamos todos a aprender à medida que precisamos. E ainda me marcaram lugar num curso de SolidWorks, para ajudar mais um bocadinho. Não me posso queixar. Por agora, parece que encontrei um lugar à minha medida
Quando digo que cheguei onde cheguei por ter uma grande dose de boa sorte, algumas pessoas tentam-me contrariar. Não sei porque nos custa admitir que somos a força por detrás da nossa sorte. Será porque achamos que muita gente luta tanto ou mais que nós mas não chegou ao mesmo lugar? De verdade não sinto que me possa responsabilizar totalmente pela minha "sorte". Demorei um pouquinho a perceber porquê, mas cheguei lá: aquilo que eu sou, não sou sozinha. Qualquer um pode saber "fazer design". Mas só alguns têm a "sorte" de terem aprendido a serem pessoas sensíveis aos objectos , às emoções e às necessidades dos seus utilizadores. Para isso é preciso uma combinação especial de bons professores, educadores e amigos , tudo numa só pessoa. E quem passou pela Escola Artística Soares dos Reis recebeu isso tudo. Só espero que o tenham agarrado.
Sou tão pequenina para dar conselhos do que quer que seja, mas há uma coisa que aprendi e que tento manter sempre comigo. Nenhum projecto, trabalho ou ideia é pequeno ou insignificante demais. Tudo nos está a ajudar a chegar onde temos que chegar. Eu sei que é o tipo de coisa que ouvimos depois de um falhanço qualquer, da boca de alguém que nos está a tentar animar, mas acredito mesmo que seja verdade. Não mencionei o facto de no 10º ano uma colega de turma ter morrido e de eu saber que de nós todos ela era a que teria sido a verdadeira artista com um futuro fantástico à sua espera, a ameaça do meu director de curso na universidade em me expulsar pelas recentes escolhas de tema para os meus projectos ou a minha rejeição para fazer o mestrado dos meus sonhos. Mas tudo isto faz parte de mim e do meu percurso. Encarem tudo como pesquisa! Um dia vão canalizar todos esses ensinamentos e aprendizagens no vosso trabalho.
“A Soares não é uma ilha isolada na sociedade." disse-me o professor Alberto no final do email. E ainda bem. Naquela altura tomei a decisão que teria mesmo que conhecer esta "não ilha" que na verdade se revelou como ponte. E que boa decisão que foi!
Talvez mais interessante do que não a ter escrito é o facto de sentir, sempre num desses momentos decisivos, que é hora de o fazer. Pergunto-me se os meu professores imaginam que isto é um assunto que me "atormenta" desde esse fatídico ultimo dia de aulas do 12º ano. A Soares dos Reis teve tal influencia em mim que o simples facto de não ter parado para tratar de escrever os pontos finais (ou ponto e vírgula) no assunto, me deixou com um sentido de “inacabadez” desmesurável.
Talvez seja pelo melhor. Levo comigo um pouco da Soares para todo o lado. Sempre a pensar em como escrever esse capítulo.
Como é que eu acabei na Nova Zelândia, a trabalhar num estúdio como Designer de Produto? Não sei bem. Não sei como começou, mas sei que a história passa pela Soares dos Reis e que ainda não acabou. O melhor está por vir.
Estava eu no 9º ano quando uma pessoa que me conhecia bem me falou da Soares dos Reis. Era uma ex-aluna e disse-me “acho que é uma escola que te encaixava bem”. Eu, que vivia na conchichina (aka Ovar) achei a ideia espetacular. Como quem quando lhe dizem “Queres ir à Lua?” e começa logo a imaginar-se dentro da nave com o capacete e a descolar ainda sem saber os contornos da aventura. Nessa noite pesquisei tudo o que consegui sobre esta escola e absorvi tanta informação quanto possível. Ao final do dia estava a rebentar. Notas de entrada? Listas? Anos comuns? Escolhas??? AJUDA! Escrevi o email mais aterrorizado de sempre (mas sempre com cuidado, porque não sabia se ia ser tido em conta na minha candidatura) e enviei para o conselho executivo. Quando acordei tinha uma resposta. Não uma resposta qualquer, mas a resposta que precisava.
“Ovar não é propriamente na China! Tenha calma.” Lembro-me de respirar fundo e ler por entre as linhas desta mensagem "não há nada que não consigas fazer!" Acho mesmo que foi o início das aventuras da Sara Almeida (mal sabia eu que o “Alberto” que me respondeu, era O Professor Alberto).
Muitos dos ensinamentos que trago desta escola só foram completamente absorvidos por mim já depois de a deixar.
Depois do 12º ano, ingressei no curso de Design de Produto numa Universidade na parte rural de Inglaterra. Como é que lá fui parar? Algures no 11º ano falei do assunto com uma amiga. Decidimos que nos íamos candidatar juntas. Esperei por ela meses e meses a fio. Quando percebi que ela afinal gostava muito da ideia, mas que nunca iria pôr mãos à obra, decidi candidatar-me sozinha. O único problema foi que as candidaturas para o ano lectivo seguinte tinham acabado... nesse dia. Eis que quando, recebo um email a informar-me que o prazo tinha sido prolongado porque estava a nevar em Inglaterra. Numa semana tratei de tudo. 8 meses depois, estava a aterrar numa nova aventura.
Logo no meu primeiro ano percebi as diferenças entre mim e os meus colegas. Eles pesquisavam na Internet. Eu pesquisava na rua, a falar com pessoas. Eles desenhavam cadeiras e mesas. Eu sonhava com espaços onde tudo coexistia com as emoções e sensações dos utilizadores. Eles criavam candeeiros, eu pensava em como resolver a guerra no Sudão através do design.
Esta maneira de encarar o design foi-me passada na Soares dos Reis.
No segundo ano do curso fiz um estágio de três meses numa empresa de iluminação chamada iGuzzini. Trabalhava no departamento de design, pedidos especiais: quando alguém nos contratava para fazer o projecto de iluminação para um projecto e queria uma alteração do produto do nosso catálogo, o departamento onde eu estava entrava em acção. Estive envolvida nos projectos para o aeroporto de Gatwick, as lojas da Primark e algumas habitações privadas. Pela primeira vez tive experiência em produzir algo de acordo com o pedido de um cliente, criar o produto, enviar para produção , recebê-lo e admira-lo. Adorei a sensação! No final do estágio o director do departamento de design, Rory Marples, disse-me para o contactar quando acabasse o curso, se quisesse trabalhar lá. Disse que me escrevia uma carta de recomendação se eu precisasse. Mas não foi o suficiente: Não me pagavam nem transporte nem subsídio de alimentação. Não gostei de trabalhar unicamente em produtos de iluminação e não gostei do ambiente de trabalho. Todos os dias os designers trabalhavam no mínimo 2 horas extra. Em alguns dias até á meia noite. Se alguém saia á hora normal, havia sempre conversa sobre o assunto "acreditas que ele foi mesmo embora ás 5:30??". Ao fim de três meses decidi vir embora. Na altura agradeci a oferta do Rory mas sabia que não fazia nenhuma intenção de a aceitar. Não era o sítio ideal para mim.
Dois anos mais tarde , finalmente liguei-lhe para pedir a minha carta de recomendação. Ia viajar para a Nova Zelândia e tinha lido que estavam a precisar de designers de produto. A meio da conversa perguntei lhe se conhecia alguém pelo país. Disse logo que sim e deu-me o número de um designer Kiwi (pessoa de origem neozelandesa). Toda despachada, liguei lhe logo e expliquei a história. Ele pareceu apreensivo mas ao fim de 5 minutos de conversa disse "envia-me o teu portfólio".
Um dia antes de embarcar no voo, recebo um email de um estúdio a perguntar se podíamos marcar uma entrevista pelo skype porque alguém lhes tinha enviado o meu portfólio. Liguei lhes logo e disse : em 48h posso aparecer no estúdio. E assim foi. Na entrevista fizeram me vários testes e exercícios de design. Muitos deles parecidos com os que fiz na Soares dos Reis no início do ano lectivo nas aulas de projecto. Repensar um objecto. Melhorá-lo. Reinventá-lo. No final, perguntaram me num tom que nunca tinha encontrado "gostaríamos muito que te juntasses á equipa. Achas que estas interessada?" Percebi depois que o tom foi o mesmo que usamos quando pedimos aos nossos pais para nos emprestarem o carro para ir sair à noite. Dizemos muitas vezes "diz que sim, diz que sim" na nossa cabeça , á espera que seja essa a resposta que lhes sai da boca. Eles estavam interessados em mim. Não era eu a implorar por um emprego. Eram eles a dizer: queremos te a ti. Um salário em condições. Férias pagas. Horas normais. Essas coisas todas que ensinaram á minha geração que só acontece em sonhos. E eu disse que sim, qual casal a aceitar ser feliz para sempre.
Deixem-me contar-vos como funciona o estúdio MW Design: somos 2 designers de produto e dois engenheiros designers. Trabalhamos das 9 às 5:30. A essa hora, o patrão activa o alarme e temos que correr dali para fora. Ninguém trabalha depois da hora. A não ser quando sabemos que é preciso cumprir um prazo e todos trabalhamos sem nos queixarmos , de boa vontade. As secretárias estão organizadas numa circunferencia pelo estúdio. Todos vemos o que os outros estão a fazer e todos contribuímos. Várias vezes ao dia é esperado que nos levantemos e exponhamos o trabalho que estamos a desenvolver na parede e que o expliquemos em voz alta. Com este processo detectamos erros muito mais rápido , recebemos críticas construtivas e dessa forma o design é muito melhor do que se fosse pensado por uma só pessoa. Somos incentivados a falar de coisas que nos interessam para que o patrão encontre clientes e projectos que vão de encontro ao que gostamos. Trabalho ao mesmo tempo em mais ou menos 5 projectos que vão de coisas altamente tecnológicas como máquinas de diagnóstico de problemas em tubos de extracção de gás a objectos de aplicação de dispositivos intra uterino em vacas. Passando por mesas de bilhar, armadilhas para ratazanas e embalagens para leite de bebé. Nunca há um momento aborrecido nem a sensação que todos os dias são a mesma coisa. Tenho dois patrões que todos os dias me perguntam no que me podem ajudar. E sei que estão a falar tanto na parte profissional como pessoal. Nas primeiras semanas entrei em parafuso quando me pediam para fazer coisas que nunca tinha feito. Fui aprendendo à medida que era preciso. Percebi depois, que até os designers seniores faziam o mesmo. Não era só eu que passava a vida a ver vídeos no YouTube com tutoriais do SolidWorks ou que ia á biblioteca aprender sobre técnicas de fabrico. Estamos todos a aprender à medida que precisamos. E ainda me marcaram lugar num curso de SolidWorks, para ajudar mais um bocadinho. Não me posso queixar. Por agora, parece que encontrei um lugar à minha medida
Quando digo que cheguei onde cheguei por ter uma grande dose de boa sorte, algumas pessoas tentam-me contrariar. Não sei porque nos custa admitir que somos a força por detrás da nossa sorte. Será porque achamos que muita gente luta tanto ou mais que nós mas não chegou ao mesmo lugar? De verdade não sinto que me possa responsabilizar totalmente pela minha "sorte". Demorei um pouquinho a perceber porquê, mas cheguei lá: aquilo que eu sou, não sou sozinha. Qualquer um pode saber "fazer design". Mas só alguns têm a "sorte" de terem aprendido a serem pessoas sensíveis aos objectos , às emoções e às necessidades dos seus utilizadores. Para isso é preciso uma combinação especial de bons professores, educadores e amigos , tudo numa só pessoa. E quem passou pela Escola Artística Soares dos Reis recebeu isso tudo. Só espero que o tenham agarrado.
Sou tão pequenina para dar conselhos do que quer que seja, mas há uma coisa que aprendi e que tento manter sempre comigo. Nenhum projecto, trabalho ou ideia é pequeno ou insignificante demais. Tudo nos está a ajudar a chegar onde temos que chegar. Eu sei que é o tipo de coisa que ouvimos depois de um falhanço qualquer, da boca de alguém que nos está a tentar animar, mas acredito mesmo que seja verdade. Não mencionei o facto de no 10º ano uma colega de turma ter morrido e de eu saber que de nós todos ela era a que teria sido a verdadeira artista com um futuro fantástico à sua espera, a ameaça do meu director de curso na universidade em me expulsar pelas recentes escolhas de tema para os meus projectos ou a minha rejeição para fazer o mestrado dos meus sonhos. Mas tudo isto faz parte de mim e do meu percurso. Encarem tudo como pesquisa! Um dia vão canalizar todos esses ensinamentos e aprendizagens no vosso trabalho.
“A Soares não é uma ilha isolada na sociedade." disse-me o professor Alberto no final do email. E ainda bem. Naquela altura tomei a decisão que teria mesmo que conhecer esta "não ilha" que na verdade se revelou como ponte. E que boa decisão que foi!
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